Prevenção é o melhor remédio


Conhecida como a maior assassina infecciosa de adultos e crianças, a pneumonia é responsável por ceifar a vida de mais de 2 milhões de pessoas, anualmente, no mundo. Grande ameaça à saúde infantil, a doença é tida como a principal causa de mortes até os 5 anos de idade, levando, diariamente, a óbito mais de 2 mil crianças em todo o planeta. 

Esse foi o triste destino do menino J.B, de 4 anos. Ele faleceu no último 10 de agosto, após três paradas cardíacas. O óbito decorreu de uma pneumonia bacteriana agressiva, que evoluiu para um quadro de sepse (infecção generalizada). Desde então, a mãe, L.I., de 26 anos, tem vindo às redes sociais para expressar a dor sentida pela perda precoce do filho.

“As pessoas me dizem que eu preciso seguir em frente. Mas a verdade é que elas não sabem o que dizem. Você era tudo o que eu tinha e tudo o que antes fazia sentido, hoje não faz mais”, escreveu a talentosa fotógrafa de partos, em sua mais recente postagem. A profissional vinha colecionando premiações em destacadas revistas internacionais de fotografia. 

Em outras postagens, a jovem mãe, que também atuava como doula e consultora de amamentação, apresentou, em luto, breves relatos do ocorrido. Segundo ela, o filho sempre gozou de boa saúde. “As pessoas me perguntam se J.B tinha alguma doença. Um dia, espero conseguir explicar com detalhes o que aconteceu. Por enquanto, só sei dizer que meu filho era um menino saudável, mas que pegou uma pneumonia muito agressiva, aparentemente decorrente de complicações de gripe H1N1 (influenza), que foi descoberta depois que ele já tinha partido.” 

Uma amiga próxima, a doula R.M, disse que a doença veio de forma repentina e quase sem sintomas. “No sábado pela manhã, L.I entrou em contato com o nosso grupo de doulas, comentando que o filho havia acordado com sinais de leve desconforto respiratório, mas todos os demais sinais vitais estavam devidamente preservados, incluindo os níveis de oxigenação. Ele se manteve assim até a madrugada de domingo para segunda. Depois, prostrou de repente e foi direto para a emergência. Chegando lá já foi internado e levado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Terça pela manhã ele faleceu. Foi uma evolução muito rápida.”    

Para combater esse mal, que se propaga de forma invisível pelo ambiente comunitário e doméstico a partir da proliferação de microorganismos, como vírus, fungos e bactérias, e também pela poluição do ar, a Organização Mundial de Saúde (OMS) instituiu, nesta data, 12 de novembro, o Dia Mundial da Pneumonia. A campanha, promovida desde 2009, cumpre o objetivo de conscientizar as pessoas sobre as formas de prevenção da doença.  

Panorama

No Brasil, somente neste ano, foram registradas, pelo DataSUS, mais de 55 mil internações seguidas de mortes por pneumonia. O número representa mais de 10% do total dos óbitos hospitalares contabilizados no País (a última atualização data do mês de setembro). Em Goiás, o total de vítimas da doença, neste ano, já se aproxima dos 1,5 mil, aumento superior a 12% em relação ao mesmo período do ano passado.  

Um caso recente, que chamou atenção dos goianos, foi o do cantor Chrystian, da dupla com Ralf. Ele faleceu aos 67 anos, em 19 de junho, devido a uma infecção generalizada decorrente de uma pneumonia agravada por comorbidades.

Além da pneumonia comum, uma das principais preocupações atuais é com a ocorrência da chamada “pneumonia silenciosa” – uma versão considerada mais branda e até mesmo assintomática. A ausência dos sintomas habituais,  como febre alta, tosse intensa e produtiva (com expectoração) e dor no peito, acaba levando à demora na busca por atendimento de emergência, o que pode contribuir para o agravamento do quadro, dificultando o tratamento. 

Esse foi o caso do fotógrafo Jackson Rodrigues, que atuava na Prefeitura de Goiânia. Ele acabou falecendo em razão de complicações da doença, no dia 30 de julho, aos 38 anos. Na ocasião, colegas de trabalho relataram à imprensa que o fotógrafo havia se queixado de leves dores nas costas e um pouco de cansaço, sintomas que podem ser facilmente interpretados como corriqueiros por grande parte da classe trabalhadora. 

Também chamada de pneumonia subclínica, a versão é resultado da infecção por bactérias atípicas, em especial a Mycoplasma pneumoniae, para as quais ainda não existem vacinas disponíveis. Há, no entanto, a possibilidade de tratamento com antibióticos específicos para combater esse tipo de microorganismo, caso seja dignosticada a tempo. 

O diagnóstico pode ser obtido a partir de um método simples, chamado de painel molecular, que examina o muco ou o catarro do paciente. Também é possível a realização de  exames de cultura para identificar as bactérias envolvidas. 

Em agosto, a Secretaria de Saúde de Goiás emitiu alerta orientando sobre o aumento dos casos de pneumonia silenciosa no estado. Infectologistas do Hospital de Doenças Tropicais Dr Anuar Auad (HDT), que atende pacientes com doenças respiratórias graves, destacaram a importância de se manter a vacinação em dia e pedem uma maior atenção a alguns sintomas persistentes, como a tosse, que não melhoram com tratamentos, nem mesmo com os antibióticos. 

Febre que dura mais de 48 horas, indisposição, bem como falta de ar ou de apetite também devem ser considerados sinais de alerta. “Em crianças, é importante observar a diminuição da diurese (menos urina) e sinais de prostração, sonolência ou confusão. Em idosos, os sintomas podem ser menos evidentes e mais difíceis de identificar”, informa matéria divulgada na página oficial do órgão.

Para as versões da pneumonia causadas por bactérias comuns, como os pneumococos, há ampla cobertura disponibilizada na rede pública e privada (pneumocócicas 10 valente e as conjugadas 13 e 15, respectivamente). Além disso, as vacinas contra a gripe, como as da covid-19 e influenza, também complementam os protocolos de prevenção da doença, ao impedir que a infecção viral no trato respiratório chegue a comprometer os pulmões. 

As imunizações são administradas nos dois primeiros anos de vida das crianças, conforme programa de vacinação orientado pelo Ministério da Saúde. Manter a caderneta de vacinação atualizada é ainda mais importante para as crianças que frequentam berçários e creches, porque estão mais expostas à propagação comunitária da doença. Cuidadores devem seguir igualmente à risca o protocolo. 

Além de ser a principal forma de prevenção, a vacinação é considerada também o método mais seguro para se impedir o agravamento da enfermidade, caso ela ocorra. A rede pública disponibiliza, ainda, a Pneumo 23 ou pneumocócica 23, ampliando a cobertura para crianças a partir dos 2 anos de idade e adultos. A numeração diz respeito ao número de cepas de pneumococos combatidas com cada versão da vacina. 

De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), no período de janeiro a julho deste ano, foram registradas 9.526 internações por pneumonia nas unidades da rede estadual. O tempo seco e a amplitude térmica são fatores que contribuem para o aumento da doença. 

No Brasil, as internações em razão da enfermidade chegam a consumir, anualmente, cerca de R$ 400 milhões do orçamento destinado à saúde pública.  

A doença

A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) informa que a pneumonia é uma infecção nos pulmões provocada por bactérias, vírus ou fungos, sendo o Streptococcus pneumoniae (pneumococo) o agente causador em 60% dos casos. Ela pode ser transmitida via ar, saliva e transfusão de sangue.

Por essa razão, cuidados básicos de higiene, como lavar as mãos com frequência, seguem sendo medidas importantes para a prevenção da doença. Além disso, o cultivo de bons hábitos de saúde, como evitar consumo de cigarros e bebidas alcoólicas e a adoção de uma dieta equilibrada, associada à  prática regular de atividades físicas também são orientações a serem observadas. 

Evitar aglomerações é outro tópico da lista de recomendações para se promover a boa saúde respiratória. O chamado teletrabalho e os modelos híbridos são possibilidades legadas pela pandemia da covid-19 que contribuem para reduzir a circulação de agentes patogênicos, evitando o surto de doenças infecciosas. Nos casos em que estas modalidades não são possíveis, o uso de máscaras segue sendo um protocolo aconselhável. 

Dentre os fatores que mais impactam na transmissão, estão as mudanças bruscas de temperatura, que são muito comuns nos meses de inverno e que tem ocorrido com mais frequência em outros períodos devido às alterações climáticas. Essas mudanças comprometem o funcionamento dos pelos do nariz, que são responsáveis pela filtragem do ar aspirado. 

O uso frequente de climatizadores de ar, como o ar-condicionado, também contribui para a proliferação das infecções, uma vez que deixam o ar muito seco. Daí a importância de garantir a ventilação natural para ambientes fechados. 

Outro fator de risco é a ocorrência de sucessivos resfriados mal cuidados. 

Atuação parlamentar

A relação da pneumonia com a poluição do ar é uma preocupação crescente e já conta com espaço de discussão na Conferência Mundial do Clima. Estudos apontam que a má qualidade do ar é, hoje, o principal  fator de risco de morte por pneumonia em todas as faixas etárias. Estima-se que quase um terço de todas essas mortes, no mundo, tenham relações diretas com o ar poluído.

Por essa razão, projetos que visem melhorar a qualidade do ar ganham destaque na presente discussão. Duas matérias sobre o tema foram postas em tramitação no Parlamento goiano, neste ano.

A mais recente se trata do projeto nº 21756/24, que institui o Selo Escola Amiga do Clima. Por meio dele, o deputado Dr. George Morais (PDT) pretende incentivar escolas a adotarem ações de preservação ambiental e conscientização sobre os impactos das mudanças climáticas, com iniciativas para minimizar a produção de lixo e resíduos, assim como o desperdício de recursos e a emissão de gases de efeito estufa. A matéria está em tramitação na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ), sob a relatoria do deputado Issy Quinan (MDB). 

Já o projeto de lei nº 3703/24, de autoria do deputado José Machado (PSDB), estabelece a obrigatoriedade da adoção de medidas de adaptação das repartições públicas estaduais às mudanças climáticas. “A crise climática tem provocado impactos diretos na saúde pública e no acesso a recursos essenciais, como água potável e espaços com temperatura adequada”, frisa o legislador, em texto que justifica a matéria. 

Segundo Machado, os recursos citados são fundamentais para a promoção da saúde pública, reduzindo os riscos associados à desidratação e a problemas respiratórios. Diante desse contexto, o autor aponta a necessidade de serem adotadas políticas públicas com diretrizes eficazes para proteger a população de situações críticas decorrentes das mudanças climáticas. “É necessário garantir o acesso a ambientes climatizados e saudáveis, especialmente nas repartições públicas, onde os cidadãos buscam serviços essenciais.”

Na CCJ, a matéria recebeu relatório favorável da deputada Vivian Naves (PP) e aguarda a devolução de pedido de vista concedido ao líder do Governo, o deputado Talles Barreto (UB).



Fonte: portal.al.go.leg.br

Jornal Cometa

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