há 200 anos, Pernambuco criou ‘Brasil alternativo’ ao Império de Pedro I — Senado Notícias
O historiador André Heráclio do Rêgo, do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, afirma:
— A Confederação do Equador foi a primeira revolução constitucionalista do Brasil, mais de cem anos antes da célebre Revolução Constitucionalista de 1932, contra Getúlio Vargas, em São Paulo. Foi também a primeira revolução federalista do Brasil. Com efeito, foram esses os seus aspectos principais, mais do que qualquer veleidade separatista.
O historiador George Cabral, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), lembra que muitos livros didáticos insistem ainda hoje em apontar o separatismo como característica definidora da Confederação do Equador:
— Como a história foi escrita pelos vencedores, a Monarquia rotulou o movimento como separatista, dando a entender que era subversivo e ameaçava a existência do Brasil. Também o rotulou como secundário, regionalista, egoisticamente preocupado com a defesa das prerrogativas locais. O projeto da Confederação do Equador, porém, era para o Brasil todo. Embora não corresponda plenamente à realidade, a narrativa oficial da formação do Estado nacional, forjada pela Monarquia, ignorou os projetos alternativos e se tornou hegemônica.
Na avaliação de Cabral, até mesmo a escolha de Tiradentes como herói republicano, decidida logo após a derrubada da Monarquia, não foi adequada:
— Com todo respeito à história de Minas Gerais, é preciso lembrar que o projeto republicano da Inconfidência Mineira ficou na fase do planejamento. Foi denunciado, descoberto e sufocado antes de ser tirado do papel. Em Pernambuco foi diferente. Tanto na Revolução Pernambucana, de 1817, quanto na Confederação do Equador, de 1824, os insurgentes efetivamente estabeleceram um governo republicano.
Para o historiador André Heráclio do Rêgo, o Frei Caneca, mentor intelectual da Confederação do Equador, seria um herói republicano mais apropriado do que Tiradentes. Ele continua:
— A glorificação de Tiradentes e da Inconfidência se deu na Primeira República [1889-1930], período em que houve uma nítida predominância política de Minas Gerais e São Paulo. É o mesmo motivo por que os bandeirantes paulistas foram também glorificados.