Superar o analfabetismo segue como meta inalcançada do PNE — Senado Notícias

Superar o analfabetismo segue como meta inalcançada do PNE — Senado Notícias


Programa de alfabetização de universidade cresce no DF

Além da oferta pelo poder público (especialmente por estados e municípios, responsáveis por mais de 90% das matrículas de EJA), cursos de instituições comunitárias e outras ações, como programas de extensão de universidades, são alternativas para quem quer passar a ver o mundo com os olhos de quem lê e escreve. Uma das mais longevas iniciativas é encabeçada pela Universidade Católica de Brasília (UCB), que desde 1993 oferece alfabetização a quem não conseguiu frequentar os bancos escolares da rede regular de ensino.

O Programa de Alfabetização Cidadã (PAC) surgiu como uma construção da própria universidade para atender inicialmente os funcionários. Mas o projeto de extensão se ramificou e deu frutos em Brasília e em outras regiões administrativas do Distrito Federal. Atualmente são em média 150 matriculados por ano.

Turma do PAC na Cidade Estrutural-DF 
Turma do PAC na Cidade Estrutural (DF) (foto: Arquivo PAC)

A UCB faz o acompanhamento e monitoramento do projeto, além da formação continuada das alfabetizadoras, que geralmente pertencem à comunidade onde são abertas as salas de aula. O programa conta com diversos parceiros, como a rede Rotary.

Com atendimento a comunidades vulneráveis, o PAC abrange atualmente quatro turmas na Estrutural e três no Sol Nascente, além de salas em Santa Maria, Samambaia, Recanto das Emas e Areal. Algumas das 11 alfabetizadoras recebem bolsas de ajuda de custo, outras são inteiramente voluntárias.

O ensino ocorre três vezes por semana, com aulas que duram de 120 a 180 minutos. São duas turmas vespertinas e nove noturnas. O Centro de Educação Paulo Freire (Cepafre) de Ceilândia é quem cede o material.

— São as alfabetizadoras que buscam esses alfabetizantes, porque elas são da comunidade. Elas fazem geralmente alguma campanha, botam cartaz na igreja, na escola, no comércio. De boca em boca também, pois muita gente já sabe do projeto. Elas que vão atrás dos estudantes. A gente tem esse período de captação para que as aulas comecem até abril, com a formatura em dezembro — diz a coordenadora do PAC, a professora da UCB Rafaela Nunes Marques.

Os que não consolidaram a aprendizagem nesses primeiros nove meses podem se manter no projeto no ano seguinte. A maior parte dos alunos tem mais de 40 anos e são mulheres. Os poucos homens muitas vezes são levados pelas esposas.

014_BOX_Formatura-das-turmas-do-PAC-em-2023.jpg 
Cerimônia de formatura das turmas do PAC, em 2023 (foto: Arquivo PAC)

A universidade também desenvolve o PAC Digital, para inserir as pessoas no letramento digital, e busca parcerias para ajudar os alunos, como conseguir consultas no oftalmologista e óculos. Durante o ano, muitas ações são direcionadas a esses grupos. Neste mês de junho, por exemplo, os graduandos do curso de letras vão promover uma noite de contação de histórias e sarau para os jovens e adultos do programa.

Assinar documentos e tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) são metas para muitos. Depois da alfabetização inicial, alguns acabam se matriculando na EJA para continuar aprendendo, e há casos até de quem chegou ao ensino superior.

— Muitos deles se sentem à vontade no projeto, porque tem esse caráter mais de educação popular. É diferente. Talvez, também, porque são três dias na semana, com até duas horas e meia [de aula], que é o tempo que a metodologia do projeto diz que é adequada para pessoas que ficaram tanto tempo longe da escola. Tudo isso também é parametrizado. A metodologia é “paulofreiriana” [relativa ao método desenvolvido pelo educador pernambucano Paulo Freire, referência mundial em alfabetização]. E tem essa ideia do círculo de cultura, de sempre debater em torno das questões geradoras, da palavra geradora daquela semana — explica a coordenadora.

Professora universitária e da rede regular de ensino, Rafaela lamenta que as escolas venham reduzindo as ofertas para a EJA e diz que, para a superação do analfabetismo, são necessárias políticas públicas.

 — A educação de jovens e adultos está com um problema seriíssimo, e essa é uma modalidade essencial para a erradicação do analfabetismo. É essencial para o prosseguimento, para que a gente não fique só no âmbito do “escrevo meu nome”, quase do analfabetismo funcional. É preciso um letramento que vai passar pelo letramento matemático, pelo letramento científico. Enfim, eles só vão ter essa emancipação mesmo quando conseguirem perceber todos esses gêneros que circulam na sociedade e conseguirem produzi-los. Isto demanda prosseguimento dos estudos — enfatiza a coordenadora.



Fonte: www12.senado.leg.br

Jornal Cometa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *